Deixo hoje uma indicação de leitura sobre as questões de letramentos múltiplos e multiletramentos, que me ajudou muito no entendimento da necessidade da adoção dessas abordagens de ensino, que são as com que me identifico. Aline Matos de Amorim elaborou um artigo completo sobre essa temática, não se limitando aos aspectos teóricos, hoje, já explorados exaustivamente por meio de artigos e livros e que têm a autora Roxane Rojo como uma grande pesquisadora nacional nesses estudos.
Roxane Rojo. Imagem da Internet
Amorim explicita a importância de levar as práticas de ensino-aprendizagem para além da cognição, para além do letramento autônomo. Na perspectiva do letramento tradicional, o aluno é levado a interpretar, a receber o que lhes é proposto e aprender com isso. É uma via de mão única, não havendo assim, uma troca. No letramento ideológico, por sua vez, o aluno é colocado como elemento central na prática de ensino-aprendizagem, sendo o responsável por apresentar suas demandas de conhecimento. O professor assume uma postura de pesquisador e de mediador na relação entre as informações disponíveis nos diferentes meios e os alunos ávidos por conhecimento e por serem reconhecidos como seres pensantes, que têm muito a agregar/ensinar e não só a aprender. Diferente do modelo autônomo, que impõe e apaga as identidades culturais e as diferentes formas de letramentos, a abordagem ideológica mostra que os letramentos são múltiplos, destacando as relações socioeconômicas, culturais e de poder, que estão presentes na sociedade. Além disso, mostra também as manifestações identitárias dos povos, as abordagens multimodal e multissemiótica e a pluralidade de ideias e de formas de expressão presentes na sociedade.
Como dito anteriormente, Amorim não só faz uma revisão bibliográfica. Ao utilizar a Linguística Aplicada (LA) no estudo, a pesquisadora propõe um projeto literário, focalizando mais no que compreende a leitura. A autora destaca que o método de leitura escolhido por ela é o sociopsicolinguístico, devido ao protagonismo do aluno no processo de leitura, onde ele agrega ao que está posto no texto, mas também aprende com a obra e com a mediação do professor.
Amorim fala também sobre a importância de se trabalhar com projetos interdisciplinares e transdisciplinares, alertando para a importância de se colocar esses projetos como pautas fundamentais nas semanas pedagógicas.
A pesquisadora disponibiliza um modelo de projeto literário, mas diz que ele não deve ser utilizado pelos professores da forma como está no artigo, pois alí é só um esqueleto de ideias. Caso o professor apenas “aplique” o projeto, ele não estará se atentando aos propósitos da LA e nem dos letramentos. Amorim também explica que os eventos de letramentos podem e devem contar com professores de diferentes áreas do conhecimento, utilizando das temáticas abordadas nas obras como fios condutores para as atividades de suas disciplinas. A autora também destaca que a disciplina de Língua Portuguesa é fundamental nesses eventos, pois a leitura e a escrita são partes fundamentais na compreensão de qualquer outra disciplina.
Fica então a minha recomendação desse artigo que é uma leitura obrigatória para pessoas que, assim como eu, tenham o sonho de serem atuantes nas mudanças das práticas de ensino-aprendizagem.
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